cegA

A mulher mais bonita do mundo sentiu a brisa ao abrir a porta. Cega, e tão acostumada aos olhares alheios que não a enxergavam, não sabia-se bela. Pelo caminho, havia decorado o que iria encontrar. Primeiro, o chão duro de paralelepípedos, depois um prestativo que lhe daria o braço e a guiaria, mais adiante alguns gracejos que chegavam a ser grosseiros, não fosse a curiosidade que sentia sobre a sua aparência.

Quando sentiu a areia fofa, dispensava o acompanhante, e prosseguia. "A água está uma delícia", "hoje está fresquinho", "o sol é bom até às 11 horas", diziam as vozes multicoloridas. Desta vez, no entanto, não parou no limite entre o sólido e o líquido. Estava cansada, e entrou. Sentiu o cheiro e, na pele, o frescor. Seguiu até o fundo e percebeu que o sabor do mar... é salino!