terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

a alegriA eM estadO brutO



Durante bem pouco tempo, eu reconheço, mas valeu. Enfrentar Minas, outra vez, para fugir do Carnaval, talvez tenha sido a oportunidade certa para enfrentar questões. Refazer o trajeto, pelo caminho inverso, mas quase pelo mesmo destino, até um pouco mais longo, me fez entender. Longe demais de casa, mas não me cansou o banco de ônibus. O que me cansou foi o passeio, "eu também tenho os meus limites", disse à Mary Jane, que perguntou se eu estava gostando do passeio.

"Não, não gostei", eu disse, mas não era pelas cidades cheias de história, casas com arquitetura colonial e cores que me gritavam aos olhos e uma overdose do período Barroco e esculturas de Aleijadinho. É tudo bonito, reconheço, mas aos olhos dos outros, não é para mim. Ou não é de mim apreciar isso. Gosto de modernidade, de arranha-ceus, de pistas asfaltadas ao invés de paralelepípedos. O ambiente, meio depressivo, de gente que respira o passado e ainda tem marcas (ou lucra - e muito) com isso, não combina comigo.

Contribuiu, muito, o fato de o pessoal da excursão ser meio chato e eu bater boca com uma senhora, bem atrevida, que se apoderou de meu lugar em uma das vãs alugadas e me disse uns desaforos. Não gosto, ali, do estereótipo do "pão de queijo", do "docim" e gosto do clima, por mais que se faça calor, você não sua um mísero PINGO!

Entre as figuras interessantes, havia um rapaz, que parecia jovem mas deveria ser velho, que a princípio não gostamos, e apelidamos de "Peito de Pombo". O que vale dessas viagens é que, pelo menos no meu caso, você se permite muito mais conhecer às pessoas do que julgá-las e mantê-las na "lista dos ignorados". Aconteceu que, em nossa mesa, estavam sobrando dois lugares e "Peito de Pombo" educadamente perguntou se nos incomodávamos se ele sentasse ali. Dissemos que não, e ensaiamos uma conversa, em que descobrimos que ele foi um dos mochileiros que ficaram presos na enchente de Machu Picchu, a "cidade perdida dos Incas". Segundo ele, tudo foi muito dramatizado. Pena que, no decorrer da viagem, não conversamos mais, embora trocássemos cordiais acenos.



Mais do que a arquitetura, eu juro, me interessei em saber mais sobre quem havia passado por lá, como se procurasse pistas. Gente de Uberlândia, Goiânia, Santos, Alemanha, França - e eu assinei minha marca, em apenas uma dessas listas, numa espécie de egocentrismo para quem não me conhece, mas mesmo assim pode me ler, e se interessar pelo meu nome - "estive aqui, e você nem soube. Bem feito!". Talvez Mary Jane tenha se decepcionado por eu não ter gostado, mas preferi ser honesto e me empenhar em aproveitar tudo com ela, como de fato fizemos. E, nesse quesito, sobretudo em viagem, quando fugimos dos outros excursionistas e fazemos nosso próprio roteiro, geralmente regado à própria sorte.

Num desses percursos, vi, de longe, um pequeno bistrô que em nada lembrava aquelas casas antigas. Era mais assemelhada às construções do "The Sims 3", de quem minha Mary é tão fã. Fomos até ali, e tiramos várias fotos, mas não entramos. Havia, ali, uma atmosfera rockabilly (nham nham nham), ou "Pushing Dasies" - o colorido Disney. Exatamente naquele momento, fui feliz. Ali em Mariana, a cidade em que nos hospedamos, se olhássemos para a frente facilmente poderíamos ver uma espécie de carro de mão, com um toldo em cima, iluminado, e um bando de pessoas em volta. Fomos para lá, e uma voz, parecida com a da Elza Soares, cantava músicas antigas.

Ficamos intrigados e, na noite seguinte, depois de alguns (exaustivos) passeios, tivemos a oportunidade de participar de um bloco de carnaval de rua, o 'Circo Volante'. Ali, novamente fui feliz, embora não goste de carnaval. Eram músicas antigas, e de repente, eu estava no meio deles agitando os braços e cantando músicas de refrão fácil, mas que nunca havia escutado, e me sentindo livre. Mary, fotografava tudo, em sua mania que muitas vezes me irrita - penso que ela deixa de aproveitar os momentos para registrá-los e, nesse caso, creio que a posteridade valha um pouco menos.


O bloco em questão contava com uma moça bonita no saxofone, meio "hippie-modernosa", alguns vocais e batuqueiros - e imagino que lembre, embora eu desconheça, o "Teatro Mágico", um grupo muito famoso por aqui, em São Paulo. O show, literalmente, teve o seu primeiro auge quando um deles começou a cuspir fogo e, depois, outro deles pulou numa roda toda incendiada. Entoando marchinhas paramos, atrás do carro de mão iluminado em frente a um restaurante, meio rústico, chamado "Circo Volante". Um deles falou que, a partir daquele momento, contariam com uma participação especial, e chamou "Tia Delma". O grupo de pessoas começou a chamá-la, em couro, e eu pude ver o seu rosto, escutar as suas canções, e ser feliz um pouco mais. 

2 comentários:

Esmejoano disse...

Imaginei como a Tia Delma se sentiu feliz quando chamaram o nome dela... poste mais!

Beth disse...

Consegui imaginar por meio de suas palavras, Minas Gerais. Parabéns!